sexta-feira, junho 21, 2013

Nightmares






As trevas me perseguiam, mais uma vez. Era quase como um padrão, que não havia como se acostumar. Ouvia o choro desesperado de uma criança, mas não conseguia descobrir de onde vinha. Gritos aterrorizantes e vozes desconhecidas também chegavam aos meus ouvidos, junto com uma gargalhada sádica. Esta, porém, me era familiar. Era a minha risada. Sabia que, mesmo que o desespero e o desejo de fazer tudo aquilo parar fossem grandes, uma pequena parte de mim gostava de tudo aquilo. E essa parte de mim ria, com prazer cada vez maior.

Lentamente, todo o barulho se cessou, inclusive minha própria voz. A escuridão dominou, e não consegui ver mais nada. O desespero tomou conta de mim novamente. O que iria acontecer a seguir? Quase como se respondendo à minha pergunta, outra voz ecoou no silêncio sepulcral; suave e, ainda assim, grossa. Me assustava, como tudo o mais ali. Sussurrava palavras desconexas, e eu não conseguia identificar sua origem. Parecia estar em todos os lugares.

Então, tão de repente quanto começou, acabou. Abri os olhos, e a escuridão ainda dominava. Mas não era a escuridão assustadora e nefasta de meu pesadelo; estava em meu quarto, e podia ver alguns poucos móveis e objetos iluminados pelo luar que entrava pela janela.

Com um choque, percebi que o pranto da criança ainda se fazia presente, e a realidade me atingiu. Tudo aquilo de fato havia acontecido, e — eu me atrevo a confessar? — muito mais vezes do que eu parecia ser capaz de aguentar. Atravessei o quarto; meus pés descalços tocando o chão frio. Me debrucei sobre um berço de madeira, a fonte do choro.

Olhei a criança ali deitada, que diminuiu o choro quando me viu. Uma menina, enrolada em um lençol prateado. Seus olhos eram negros como a noite, como a escuridão que me cercava. Percebi que, no fundo, tudo aquilo fazia sentido. A compreensão me atingiu. De súbito, entendi de quem era a voz presente em todos os meus pesadelos, e me senti mais calma, como se a parte de mim que se sentia à vontade em cada sonho que julgava horrível finalmente tivesse assumido o controle. Os pesadelos nunca iriam me deixar, eram parte de mim, assim como a menininha, com o rosto manchado de lágrimas, na minha frente.

Você é a fonte de tudo, não é mesmo? Minha pequena criança, meu pequeno erro. Bem vinda ao meu mundo, conheça meus medos, filha do pesadelo.

Um comentário:

  1. Uma terrível canção de inverno, digna de Stephen King, onde o monstro não se esconde no armário, tampouco é sobrenatural, mas poderia estar na casa ao lado.

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