domingo, janeiro 26, 2014

Canção do Mar


Wish my mother could hear it
The sea is my song
For a moment, just a moment
I belong



Como Ismália que um dia quis a lua
Ariana queria o mar
Não sabia como nem porquê
Apenas sabia
Que aquele era seu lar
Para o mundo da qual vinha
Não pretendia revir
Apenas fechou os olhos
E até no fundo de sua alma
A água pode sentir
O ar que lhe faltava
Jamais voltaria
E enquanto a distância aumentava
A respiração diminuía
A duvida a cutucava
Bem no fundo da mente
Parecia tão errado
O sol a incomodava
Era tão quente!
O azul do oceano
Agora era negrume
A canção aumentava o volume
E seus ouvidos aumentavam a pressão
Se o sol lhe feria
E o mar a matava
Onde pertencia, então?

domingo, janeiro 05, 2014

We are young

Give me a second I
I need to get my story straight
My friends are in the bathroom
Getting higher than the empire state




A música ecoava a todo volume na casa lotada. A regra dos anfitriões era clara: não vão para o segundo andar. Mas é claro que não se pode controlar uma casa cheia de adolescentes e sem a supervisão de um adulto.

De todas as festas que já haviam sido dadas naquela casa, aquela estava longe de ser a pior, mas isso não é o mesmo que ser considerada uma festa devidamente controlada, calma e puritana. Acredito, se permitem minha humilde opinião, que qualquer pessoa com o mínimo de senso de limite teria se horrorizado diante de toda a cena. É sempre surpreendente o que adolescentes são capazes de fazer quando em estado de êxtase, e a felicidade era presente em todos os cômodos do sobrado. Ou quase todos.

Ela estava trancada no único quarto não ocupado de toda a casa, grande, decorado com cores claras e uma cama de casal. Provavelmente era o quarto dos pais dos dois jovens que davam a festa naquele exato momento. Ela não fazia ideia de como ambos explicariam o estrago que provavelmente sobraria depois, mas eles encontrariam algo. Pessoas de mente forte são boas fazendo isso, livrando-se bem de situações das quais outras pessoas sairiam arrependidas e envergonhadas.

Ultimamente, Juliet Reed andava pensando bastante nas outras pessoas. O suficiente para que tentasse, uma última vez, fazer amigos, mas sempre fora uma negação para isso. Durante toda a vida, ela nunca conseguiu entender a mentalidade de pessoas da sua idade. Tinha alma de velho, era o que diziam, mas dessa vez havia conseguido manter algumas pessoas próximas por um tempo consideravelmente longo. É óbvio que isso não é o mesmo que se sentir inclusa. Não importa o quanto tentasse, jamais conseguiria se enturmar, fosse entre os jovens ou entre os adultos.

Sabia que não devia ter ido. Agora estava sozinha, mais uma vez. Seus “amigos” deviam estar em algum outro canto do duplex, bebendo, fumando ou fazendo qualquer outra coisa da qual ela nunca se orgulharia de dizer ter participado. Porque, afinal, ela nunca participara. Esteve sozinha naquele quarto por tempo suficiente para revirar todo o cômodo. Era uma suíte bonita, com uma boa visão do jardim. Aquele lugar não era para ela. Talvez só devesse ir embora. Era algo que ela sempre pensara, desde quando podia se lembrar. Afinal, viver era para os felizes, não era? Ela nem mesmo sabia o que era felicidade! Talvez estivesse entre os cigarros fumados pelos presentes na festa, talvez estivesse no fundo das garrafas de bebida. Talvez não estivesse em lugar algum. Talvez estivesse no ar e só pudesse ser sentida pelos que sabiam apreciar os pequenos detalhes, mas ela se sentia tão sufocada…

Abriu a janela, mas não ajudou. O som ecoava longe, agora. Algo sobre ser jovem. Irônico, se fosse considerado quem ela era. Sentou-se no parapeito, e isso tampouco a ajudou a respirar melhor. Mas ela não se importou, pois nunca mais lhe diriam que ela não pertencia àquele lugar, e nunca mais ela se sentiria deslocada. Juliet podia ter a alma de uma pessoa idosa, mas sua aparência era de alguém jovem. E se permanecesse assim, talvez fosse aceita, ou menos estaria presente na memória das pessoas. Seria jovem para sempre. Ela pulou.




So if by the time the bar closes
And you feel like falling down
I'll carry you home tonight

quinta-feira, janeiro 02, 2014

This is Home


A porta do carro foi batida com força, logo após a adolescente sair, pisando duro e exalando raiva. O pai saiu do lado do motorista logo após, com uma mistura de ira e decepção. Nenhum deles me viu. Nenhum deles me sentiu. Não até agora.

Ele gritou mais alguma coisa para ela. Acho que vieram todo o caminho para casa aos berros. A essa altura, eu podia ver o traço brilhante que as lágrimas deixaram no rosto dela. Nenhum dos dois lembrou-se de pegar a mala da garota, jogada de qualquer jeito no banco traseiro. E nem eu lembrei, na verdade. Estava muito ocupado tentando identificar a causa das lágrimas. Raiva? Frustração? Ou a clássica tristeza? Ou, vai ver, eu sou o causador.

Oh, perdoe minha falta de educação, não me apresentei! Eu sou o Amor. Imagino que, como várias outras pessoas, você imaginava que uma figura feminina representasse meu sentimento. E é, às vezes. Você sabe, sentimentos podem muito bem assumir a forma que bem desejam, mas se assumíssemos nossas verdadeiras formas, com certeza não poderíamos ser discretos como devemos, em certos casos, e sob forma humana, seríamos tão velhos quanto possível. E que credibilidade com as pessoas teríamos, assim? As pessoas tem o péssimo hábito de não valorizar o que é velho, que tem histórias para contar.

Nesse momento, não passo de um adolescente, assim como ela. Nem mesmo sei o seu nome. Tenho ordens de não me envolver demais nas histórias que crio, mas é impossível, às vezes. Ainda lembro-me bem do desastre em que terminou Romeu e Julieta, ou mesmo Cyrano e Roxane. Acho que essa se chama Sofia. Ainda com o pai gritando coisas horríveis que eu não me importava em entender, ela olhou para o outro lado da rua. Bem para onde eu estava. Certamente não me reconheceu, e talvez tenha pensado que sou apenas um parente ou amigo de seu vizinho. Ela não me reconheceu, mas eu entendi, finalmente. Acho que as lágrimas eram de tristeza, afinal.

Ela entrou em casa. Casa. Palavra estranha diante toda essa situação. Veja bem, eu sei que todos me veem como O Mais Bonito dos Sentimentos, ou ainda O Sentimento que Move o Mundo. Mas as coisas não funcionam assim. É claro que também não sou perigoso, e tampouco obrigo as pessoas a fazerem coisas que quero que façam, mas posso influenciá-las. E essa menina, Sofia, foi influenciada por mim. Eu assumo a culpa. Mas, em minha defesa, a ideia parecia bastante aceitável na mente sonhadora de menina de 16 anos dela. Eu a ceguei, mesmo sem querer. Juntara a mesada durante meses. Arrumara algumas poucas roupas dentro de uma mala pequena, e estava pronta para assumir as responsabilidades como adulta e viveria com o namorado.

Mesmo para mim soa um plano burro e precipitado. Desculpem a grosseria, mas é como vejo. E é claro que deu errado. Por motivos como esses, por pessoas que confiam tão cegamente em mim que perdem a razão, é que perco também minha credibilidade. Não sou um sentimento vão, e grande parte das vezes sou racional também, ao contrário do que sei que imaginam por aí.

Ao menos tudo acabou bem, mesmo que a fugitiva não seja capaz de entender. Ainda é jovem demais para entender minhas motivações, e onde me encontrar. Ela acha que estou apenas onde seu amado está, assim como muitas menininhas apaixonadas por aí. É uma pena que não posso me comunicar diretamente com elas e lhes contar que não é assim que funciona. Eu estou em todo lugar, assim como o ar que ela respira, pois sou como a terra e o céu.

Ela vai entender um dia, eu sei disso. Enquanto não entende, acho que posso contar com a sensatez de seus pais para mantê-la em casa, segura e a salvo. E, no final das contas, ela conseguiu o que queria também. Queria estar onde o amor está, e embora ela esteja longe de onde sua paixão está, eu estou aqui. Quando a raiva passar, talvez ela perceba isso por si mesma, e se sinta em casa novamente.