sábado, junho 15, 2013

Just a Dream





(com participação de Verenna Klein)

Abby percebeu-se num jardim. Era um bocado estranho, e ela se sentia muito pequena com os arbustos três vezes maiores que ela – não que fosse algo difícil: ela tinha sete anos e parecia uma bonequinha com o vestido e as maria-chiquinhas. Desfez o penteado com as mãos e sentou-se num balanço que lá havia.

A criança distraiu-se com o vai-vem do balanço, até que viu um pequeno ponto cor-de-rosa numa mesa. Uma borboleta, talvez. Levantou-se e foi até o móvel. Era, de fato, uma borboleta. Tentava levantar voo, mas não conseguia. Abby assistiu a cena durante alguns minutos, sem saber o que fazer.

— Ela não vai conseguir. — A voz chegou aos seus ouvidos, e ela se virou assustada. Podia jurar que, há apenas alguns minutos, estava sozinha no jardim.

— Quem é você? — A menina perguntou, com algum receio. A mulher que havia lhe dirigido a palavra era uma completa estranha, mas ao mesmo tempo lhe inspirava confiança.

— Ora, minha querida, nomes não são importantes; seus significados são muito mais, embora muito menos valorizados. Mas te chamam de Abby, não é mesmo?

— O que é você? — Abby não se importava em saber como a criatura sabia seu nome. Apenas sabia, então poupava apresentações chatas.

— Tenho vários nomes, mas você me chamaria de fada. — Os olhos da menina brilharam, mas a fada pôs um dedo em seus lábios e acrescentou: — Olhe, a borboleta desistiu agora.

— Desistiu do que?

— De viver, pequena.

Abby encarou a fada estupefata. A situação toda era estranha, e a pequena criatura cintilante – que não tinha mais que metade do seu tamanho – levantou-se e soprou a borboleta, que explodiu em pedaços coloridos.

— Por que você fez isso?

— Apenas a impedi de sofrer mais. — A fada deu de ombros. — Além do mais, é minha função.

— Eu pensei que fadas fossem boazinhas. — A menina murmurou. Sentia vontade de chorar, mas não faria.

— Eu seria má se a deixasse ali. Além disso, o sonho é teu, e a borboleta é parte de sua mente. Você que a permitiu morrer.

— Se isto é um sonho, o que você faz nele?

— Um aviso, como o que a borboleta ganharia se realmente existisse e pudesse sonhar.

— Que aviso?

— De morte. — Abby arregalou os olhos com a resposta inesperada. Tropeçou alguns passos para trás, e a fada suspirou, parecendo cansada. Como se tivesse passado por aquela situação inúmeras vezes. — Não aja como se eu fosse a culpada. O Destino é incompreendido, mas de vital importância. Imagine o caos que o mundo seria se não fosse por ele? Mas eu não sou o Destino, afinal de contas; apenas cuido para que ele seja cumprido.

Inocente como toda criança, Abby se surpreendeu com as palavras da fada. Nunca havia parado para pensar por esse ponto de vista e, apesar de fazer sentido, a ideia era, em si, cruel.

— Se isso é tudo coisa da minha cabeça... — ela começou, hesitante. — então pode acabar a hora que eu quiser, não é mesmo?

Ela nem mesmo esperou qualquer resposta da fada. Fechou os olhos, e desejou com todas as forças que tudo isso acabasse. Abriu os olhos, com receio. Nada havia mudado.


— Por que eu não posso voltar? — A pequena menina encarou a criatura. — Por que você tem que ser tão má?

— Eu não sou má, menina. Já irei deixá-la ir.

Abby olhou os olhos para a fada. Tinha quase chorado, mas depois resolvera que a fada não merecia suas lágrimas, então sacudiu a cabeça e espantou as lágrimas que queriam surgir.

— Então por que não deixa agora?

— Precisava dar-lhe isso. – murmurou e depositou um pequeno amuleto na mão da menina. – Agora vá.

E quando Abby piscou, já não estava mais no jardim. Sua cabeça estava apoiada ainda no vidro embaçado do automóvel, e seus pais conversavam um pouco quando ela acordou.

— Mamãe! Eu vi... – mas antes que a pequena pudesse narrar suas aventuras, sua mãe gritou. E, embora a pequena não tivesse consciência disso mais, o carro capotou pela ladeira, com o vidro estilhaçando-se em mil pedacinhos e o metal pressionando contra os corpos ensanguentados dela e de seus pais. Tentou chamá-los, mas não recebeu nenhuma resposta. Chorava muito, e sentia todo seu corpo doer. As palavras da fada voltavam à sua mente, e dessa vez a menina entendeu a gravidade do que lhe foi dito. Mais uma lágrima escorreu pela sua bochecha, e a menina fechou os olhos, pela última vez.

Talvez agora Abby voltasse para o reino dos sonhos, onde uma fada lhe diria verdades sobre tudo.

Fim.

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