domingo, dezembro 22, 2013

Imaginary enemy


Então mandei alguns homens para a luta
E um voltou no meio da noite
Disse: "você viu meu inimigo?"
"Ele se parecia comigo"


O choro de criança. A pele avermelhada. Mais um tapa. O medo nos olhos. O baque da realidade que até então lhe era desconhecida, ou assim ele queria que fosse. A pergunta se repetia em sua mente: “O que foi que eu fiz?”. A culpa que lhe tomava. O medo agora fora substituído pelo impulso e pela raiva, e o amor jurado há tempos já fora esquecido. O fruto desse amor com o rosto manchado depois das lágrimas, a confusão tomando sua mente. Teclas pressionadas no telefone, e um pedido de desculpas abafado por juras de vingança. Como aquilo tudo começou? Ele não tinha ideia. Ninguém tinha. Apenas teve um início, e estava prestes a ter um fim. A luta fora perdida, e perdido ele também ficaria, pois bem no fundo ele sabia qual era seu centro, quem lhe fazia feliz. Uma pena que a felicidade não fora o suficiente para que se mantivesse estável, e a instabilidade o levou para a insanidade. A raiva voltou a lhe tomar a alma, e ele teria quebrado qualquer coisa, se isso fizesse com que fosse possível voltar no tempo. Uma janela, um prato, um copo, um espelho. Não havia nada que pudesse quebrar, e desconfiava que se tivesse um espelho por perto, não ousaria se aproximar dele. Não seria capaz de ver sua própria imagem, porque não sabia o que veria. O reflexo de quem era, do animal que havia se transformado ou a imagem de quem realmente era, do homem feliz de antigamente, não sabia quem lhe olharia de volta. Com as últimas forças que possuía, se forçou a recuar, e agora era ele quem chorava. Tudo havia acabado, enfim. Não sabia mais quem era. Sabia apenas que a guerra teve seu final. Jamais seria chamado de pai de novo, porque jamais mereceu. Jamais precisaria usar a aliança mais uma vez, porque era tudo sobre respeito, e respeito ele jamais teve. E jamais seria capaz de olhar seu reflexo de novo, pois para onde iria todos eram como ele; todos haviam sido presos em jaulas por serem monstros. Mas ele conseguiu constatar, antes de se transformar completamente em um animal, que todos lá eram como ele: soldados feridos em batalhas, soldados mortos em campo, soldados que atiraram em si mesmos. Inimigos pessoais uns dos outros.

Um comentário:

  1. Sabe, eu realmente adoro o assunto de sobreviventes de guerra. acho que vou até sugerir no céu. Fora que, gostei da construção também. Os periodos curtos e não tão especificos. Um só paragrafo, sem pausas. Ficou bem legal, mesmo.

    ResponderExcluir