Então mandei alguns homens para a luta
E um voltou no meio da noite
Disse: "você viu meu inimigo?"
"Ele se parecia comigo"
O choro de criança. A pele avermelhada. Mais um tapa. O medo nos olhos. O baque da realidade que até então lhe era desconhecida, ou assim ele queria que fosse. A pergunta se repetia em sua mente: “O que foi que eu fiz?”. A culpa que lhe tomava. O medo agora fora substituído pelo impulso e pela raiva, e o amor jurado há tempos já fora esquecido. O fruto desse amor com o rosto manchado depois das lágrimas, a confusão tomando sua mente. Teclas pressionadas no telefone, e um pedido de desculpas abafado por juras de vingança. Como aquilo tudo começou? Ele não tinha ideia. Ninguém tinha. Apenas teve um início, e estava prestes a ter um fim. A luta fora perdida, e perdido ele também ficaria, pois bem no fundo ele sabia qual era seu centro, quem lhe fazia feliz. Uma pena que a felicidade não fora o suficiente para que se mantivesse estável, e a instabilidade o levou para a insanidade. A raiva voltou a lhe tomar a alma, e ele teria quebrado qualquer coisa, se isso fizesse com que fosse possível voltar no tempo. Uma janela, um prato, um copo, um espelho. Não havia nada que pudesse quebrar, e desconfiava que se tivesse um espelho por perto, não ousaria se aproximar dele. Não seria capaz de ver sua própria imagem, porque não sabia o que veria. O reflexo de quem era, do animal que havia se transformado ou a imagem de quem realmente era, do homem feliz de antigamente, não sabia quem lhe olharia de volta. Com as últimas forças que possuía, se forçou a recuar, e agora era ele quem chorava. Tudo havia acabado, enfim. Não sabia mais quem era. Sabia apenas que a guerra teve seu final. Jamais seria chamado de pai de novo, porque jamais mereceu. Jamais precisaria usar a aliança mais uma vez, porque era tudo sobre respeito, e respeito ele jamais teve. E jamais seria capaz de olhar seu reflexo de novo, pois para onde iria todos eram como ele; todos haviam sido presos em jaulas por serem monstros. Mas ele conseguiu constatar, antes de se transformar completamente em um animal, que todos lá eram como ele: soldados feridos em batalhas, soldados mortos em campo, soldados que atiraram em si mesmos. Inimigos pessoais uns dos outros.
Não gosto de me expor. Essa sou eu. Gosto da discrição, do silêncio da noite, e da ausência de pessoas. Apenas da ausência, não da solidão. Porque é nesses momentos que eu sinto a estranha necessidade de conversar com os que estão ao meu redor, e me exponho. Isso me faz rever meus próprios conceitos. No fim, chego a conclusão de que não vale a pena pensar no que nos forma. A metamorfose humana é contínua. Gosto de me expor, essa sou eu, e essa é minha realidade.

Sabe, eu realmente adoro o assunto de sobreviventes de guerra. acho que vou até sugerir no céu. Fora que, gostei da construção também. Os periodos curtos e não tão especificos. Um só paragrafo, sem pausas. Ficou bem legal, mesmo.
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